Jovem afegã chora e faz forte desabafo sobre situação das mulheres após ofensiva do Talibã: “Ninguém liga para nós”; assista

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O grupo extremista Talibã tomou o poder do Afeganistão no domingo (15), após uma ofensiva na capital, Cabul… Agora, as mulheres temem por seu futuro. Nesta semana, uma jovem afegã, de 23 anos, fez um vídeo em prantos lamentando a situação de suas conterrâneas e expondo o medo de serem violentadas pelos fundamentalistas.

Com o Talibã no poder, as meninas foram proibidas de frequentar escolas, de trabalhar, estudar, de serem atendidas por médicos do sexo oposto, e até mesmo de andar em público sozinhas. Elas só poderiam sair em público caso estivessem acompanhadas por homens e cobrissem o corpo todo. Quem se rebelasse contra as diretrizes tinha de ser castigado e até executado.

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Não à toa, o atual cenário do Afeganistão gerou terror, especialmente entre as mulheres. Foi esse temor que motivou o forte desabafo de uma jovem afegã, que teve seu vídeo compartilhado pela jornalista iraniana Masih Alinejad. “Nós não contamos, porque nascemos no Afeganistão. Eu não consigo parar de chorar. Eu tenho que secar minhas lágrimas para conseguir gravar esse vídeo. Ninguém liga para nós. Vamos morrer lentamente na história. Não é engraçado?”, disse ela, chorando copiosamente.

Já nesta terça-feira (17), a moça foi entrevistada por Alinejad e voltou a se compadecer de outras mulheres no país. “Tenho 23 anos. Se o Talibã vir uma mulher como eu, eles vão me casar à força com um dos seus combatentes, um casamento de estupro islâmico, em outras palavras”, comentou. “Existem mulheres que estão sendo tomadas para serem estupradas e essas mulheres não têm câmeras para expor isso. Não tem ninguém para ajudá-las”, comoveu-se a jovem.

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A jovem afegã se disse preocupada por amigos que ficaram no Afeganistão. (Foto: Reprodução)

A garota também explicou o que quis dizer ao falar que eles “não contavam” por serem do Afeganistão. “Eles te consideram sem identidade por ser do Afeganistão. Sua alegria, sua tristeza, suas preocupações… Elas são todas ignoradas por você ser do Afeganistão. Quando falo sobre nosso perrengue, sou acusada de falar mal do Islã. Eu não ligo. Vou continuar fazendo meu trabalho porque estou revelando o perrengue das mulheres”, acrescentou.

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“Se as minhas lágrimas puderam ser vistas, é porque eu estava em segurança. Uma segurança relativa. Ninguém está livre dos governos islâmicos, aqueles que nasceram lá”, afirmou ela. A jovem afegã também não escondeu o medo dos que ainda estão presos no Afeganistão. “Sim, eu me preocupo com amigos que me disseram que não conseguem deixar Cabul. Quando eu perguntei por que eles não saíram de lá mais cedo, eles disseram que tinham esperança”, concluiu. Uma situação muito difícil…

Assista ao vídeo na íntegra:

Entenda a situação do Afeganistão

Após 20 anos de guerra, o grupo extremista Talibã tomou a capital do Afeganistão, prometendo estabelecer um novo regime no local. A ocupação começou na noite deste domingo (15), com a invasão do palácio presidencial da cidade de Cabul. Em uma postagem nas redes sociais, o presidente Ashraf Ghani disse que se deparou com uma escolha difícil, mas que os insurgentes conseguiram retirá-lo do país. “Deveria suportar enfrentar o grupo armado que quis entrar no palácio ou sair do país querido que dediquei minha vida para proteger. Para evitar derramamento de sangue, achei melhor sair”, escreveu ele, que não revelou detalhes sobre sua atual localização.

A queda do governo afegão para o Talibã ocorre 20 anos depois de o grupo extremista ser expulso de Cabul pelos Estados Unidos, que invadiram o Afeganistão dias após os ataques de 11 de setembro de 2001. Em maio deste ano, o presidente dos EUA, Joe Biden, iniciou a retirada efetiva de todas as suas tropas do país. Com a saída dos norte-americanos, o grupo islâmico fundamentalista e nacionalista capturou novamente a capital afegã.

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Já nesta segunda-feira (16), cenas angustiantes foram registradas por residentes de Cabul, que se deslocaram até o Aeroporto Internacional Hamid Karzai para tentar deixar o país. Com a cidade tomada pelo Talibã, cidadãos não viram escolha a não ser escapar pelos ares. Vídeos divulgados nas redes mostram milhares de pessoas correndo pela pista do aeroporto, enquanto outras se agarravam a escadas para tentar entrar à força em aviões. Nas imagens de partir o coração, é possível ver ainda afegãos se pendurando do lado de fora de aeronaves no momento da decolagem, e despencando do céu, segundos mais tarde. Que tristeza!

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Também no domingo, Aisha Khurram, ex-embaixadora da Juventude da ONU, compartilhou o estado de angústia e medo em que as mulheres do Afeganistão se encontram no momento. “Alguns professores se despediram de suas alunas quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul nesta manhã… e talvez não tenhamos nossa formatura assim como milhares de alunos em todo o país…“, escreveu ela. Lotfullah Najafizada, chefe do serviço de notícias afegão Tolo News, também postou no Twitter uma foto de um homem cobrindo de tinta imagens de mulheres pintadas em um muro de Cabul.

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Muros sendo pintados no Afeganistão. (Foto: Reprodução/ Twitter)

Mais de 250 mil pessoas foram deslocadas pelos combates e tentaram encontrar refúgio na capital do país. Algumas que fugiram de áreas controladas pelo Talibã contaram que os militares obrigaram as famílias a entregar meninas e mulheres solteiras para se tornarem esposas dos combatentes.