Mais uma notícia que comprova a dura realidade de intolerância e violência em nosso país contra a comunidade LGBTQIA+… Na manhã desta sexta-feira (9), Roberta da Silva, mulher trans que teve 40% do corpo queimado e um braço amputado, após um adolescente atear fogo contra ela próximo ao Cais de Santa Rita, no Recife, faleceu.
Internada desde o dia 24 de junho no Hospital da Restauração (HR), Roberta passou por uma série de cirurgias, todas tentativas de tratar os ferimentos graves que ela sofreu. No dia 26 de junho, a mulher teve seu braço esquerdo amputado completamente. Infelizmente, mesmo com os cuidados médicos, Roberta teve necrose progressiva e, quatro dias após a primeira intervenção médica, precisou ter parte do braço direito removida, preservando apenas um pedaço acima do cotovelo.
Já no dia 5 de julho, o quadro de saúde de Silva, que segundo o médico Marcos Barretto, chefe da Unidade de Queimados do HR, teve queimaduras na cabeça, além de lesões graves em várias partes do corpo, se agravou. Ela então foi levada para a unidade de Terapia Intensiva (UTI) e foi intubada. A assessoria de imprensa da unidade de saúde informou que Silva perdeu a vida às 9h de hoje (9), após piora significativa em seu quadro de saúde. A equipe médica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) realizou hemodiálise em uma tentativa de salvá-la, mas, infelizmente, a paciente não resistiu.
Relembre o caso
A mulher trans de 32 anos teve 40% do corpo queimado e um braço amputado, após um adolescente atear fogo contra ela próximo ao Cais de Santa Rita, no Recife. A história causou revolta na web, e chegou ao conhecimento de Whindersson Nunes, que fez questão de acompanhar a situação de perto. Até o momento, o humorista não se pronunciou sobre o falecimento de Roberta.
De acordo com a Polícia Militar de Pernambuco, na madrugada de quinta-feira, 24 de junho, oficiais realizavam um patrulhamento próximo ao Terminal de Ônibus do Cais de Santa Rita, pouco depois da meia-noite, quando foram acionados por populares devido a uma tentativa de homicídio. Ao chegarem no local, encontraram Roberta com o corpo em chamas.
Posteriormente, a Polícia Civil declarou que o responsável pelo crime foi um adolescente, que ainda tentou fugir, mas foi apreendido e autuado em flagrante. Ele foi encaminhado para a Unidade de Atendimento Inicial (Uniai) da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) e enquadrado no “ato infracional análogo a homicídio doloso tentado”.
De acordo com o Boletim de Ocorrência do caso, testemunhas afirmaram que o rapaz estava com a vítima dentro de um barraco de lona e ateou fogo diretamente em Roberta antes de fugir. No registro consta ainda que a mulher não tinha documentos e estava em situação de rua.
Repercussão
Pouco após o anúncio do falecimento de Roberta, o prefeito do Recife João Campos (PSB), utilizou o Twitter para falar a respeito. “Lamento profundamente a morte da mulher trans Roberta da Silva. É intolerável qualquer vida perdida para o ódio e para o preconceito”, escreveu. “Vamos avançar com novas ações para ampliar o atendimento a esta população, como a Casa de Acolhida LGBTI+, que irá receber o nome de Roberta”, revelou.
Lamento profundamente a morte da mulher trans Roberta da Silva. É intolerável qualquer vida perdida para o ódio e para o preconceito. Vamos avançar com novas ações para ampliar o atendimento a esta população, como a Casa de Acolhida LGBTI+, que irá receber o nome de Roberta.
— João Campos (@JoaoCampos) July 9, 2021
A co-deputada do mandato coletivo “Juntas”, Robeyoncé Lima (PSOL), que acompanhou o caso de perto, também se pronunciou. “Me foi informado agora pouco do falecimento da companheira Roberta. Atacada de maneira cruel, ela foi mais uma vítima da transfeminicídio em Pernambuco”, lamentou. “Mandemos boas energias para que ela tenha uma passagem serena e também honremos sua memória”, concluiu.
Me foi informado agora pouco do falecimento da companheira Roberta. Atacada de maneira cruel, ela foi mais uma vítima da transfeminicídio em Pernambuco.
Mandemos boas energias para que ela tenha uma passagem serena e também honremos sua memória.
— Robeyoncé Lima (@RobeyonceLima) July 9, 2021
Já a vereadora da capital pernambucana Liana Cirne (PT), ofereceu seu apoio à família da vítima através do Instagram. “Toda nossa solidariedade à família de Roberta, que deixa mãe e irmã”, declarou. “Não é possível tolerar tanto ódio!”, acrescentou ela.
A vereadora do Recife, Dani Portela (PSOL), também falou sobre o assunto. “Infelizmente acabamos de saber que Roberta não resistiu e morreu, após uma luta de 15 dias no hospital. Que sociedade é essa que faz adolescentes matarem mulheres trans queimadas vivas? Não podemos nos calar diante isso, temos que ir até o fim!”, apontou.
Em junho, além do caso de Roberta, foram registrados outros três assassinatos de mulheres trans em Pernambuco. Em todo o país, 80 pessoas transexuais foram mortas no 1º semestre de 2021, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
No dia do Orgulho LGBTQIA, celebrado em 28 de junho, manifestantes pediram o fim da violência contra as mulheres trans. No ato, no Centro do Recife, eles relembraram o atentado à Roberta. Ficam aqui a nossa solidariedade e sentimentos à família. Que a justiça para esse crime tão cruel seja feita.